quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Manuel Alegre

É com grande contentamento que tomo conhecimento de que "O Homem do País Azul" está incluído no programa de Português do 10º ano. Não basta queixarmo-nos da falta de cultura dos nossos adolescentes: há que mostrar-lhes que o maior património de Portugal não é o cozido à portuguesa ou o Cristino Ronaldo, mas sim os seus poetas.
Este é, sem dúvida, o meu poeta de eleição dentro dos contemporâneos e de língua portuguesa. Encontro em Manuel Alegre a mesma força das palavras, a mesma energia vital, a mesma voz grossa de Ary dos Santos. Talvez a carreira política de Manuel Alegre e a sua clara identificação à esquerda tenham feito dele um poeta maldito, porque o meio literário lusitano lida muito mal com quem toma opções políticas, numa pequenez de espírito que não se vê nos países ditos civilizados em geral (quando Saramago ganhou o Nobel, muito se disse por aí: "AH! Mas ele é comunista!!"). O que é certo é que Portugal não dá o devido valor a este artífice das palavras libertárias, e comete-se a suprema injustiça de silenciar este escritor que sempre lutou por se fazer ouvir.
Uma pena, digo eu. Porém, o tempo e as gerações vindouras encarregar-se-ão de lhe fazer justiça. Digo eu, porque acredito nesta voz poética desde que me deparei com este poema, que de seguida transcrevo, num livro da minha quarta classe.

Manuel Alegre nasceu em 1936 e estudou na Faculdade de Direito de Coimbra, onde participou activamente nas lutas académicas. Cumpriu o serviço militar na guerra colonial em Angola. Nessa altura, foi preso pela polícia política (PIDE) por se revoltar contra a guerra. Após o regresso exilou-se no norte de África, em Argel, onde desenvolveu actividades contra o regime de Salazar. Em 1974 regressou definitivamente a Portugal, demonstrando, nos vários cargos governamentais que tem desempenhado ao longo dos anos, uma intervenção fiel aos ideais da Liberdade.
A sua poesia foi e é um hino à Liberdade e, talvez seja por isso que é lembrada por muitos resistentes que lutaram contra a ditadura. É considerado o poeta mais cantado pelos músicos portugueses, designadamente Adriano Correia de Oliveira, José Afonso, Luís Cília, Manuel Freire, António Portugal, José Niza, António Bernardino, Alain Oulman, Amália Rodrigues, Janita Salomé e João Braga.

As mãos

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema - e são de terra.
Com mãos se faz a guerra - e são a paz.
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade."

"O Canto e as Armas", 1967

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5 Comentários:

Blogger Shelyak disse...

Como em outros tantos casos, a devido valor será dado quando do seu desaparecimento...:(

4 de outubro de 2007 às 19:00  
Blogger Giuseppe disse...

Excelente notícia!
Votei nele...

5 de outubro de 2007 às 06:14  
Blogger Yashmeen disse...

Também eu, meu querido JP...

5 de outubro de 2007 às 15:33  
Blogger MANDALAS POEMAS disse...

Hola, por aqui deleitandome con el contenido de tu blog. Felicitaciones.
Te invito muy cordialmente a que visites el mio donde están consignados mis poemas.

www.mandalaspoemas.blogspot.com

Un abrazo desde Barranquilla, Colombia.

Víctor González Solano

5 de outubro de 2007 às 21:38  
Blogger Vera Isabel disse...

tenho. de. ler. esse. livro.
se o tenho. acabaram-se as desculpas.
se há tempo para muita coisa, há tempo para cultivar a mente.

6 de outubro de 2007 às 01:44  

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